Fatores genéticos associados à perda de implantes dentários

O uso dos implantes dentários é considerado uma abordagem terapêutica altamente previsível para substituição de elementos dentários perdidos, com resultados estéticos e funcionais. Apesar da elevada taxa de sucesso descrita na literatura, em algumas ocasiões podem ocorrer falhas, resultando na perda do implante. O processo de falha na osseointegração é considerado multifatorial e pode ser dividido em perda precoce (ocorre durante o período de osseointegração) ou tardia (ocorre após ser submetido a cargas oclusais)1. As falhas precoces podem ser decorrentes da preparação inadequada do leito cirúrgico (acarretando em necrose do tecido ósseo), contaminação bacteriana e inflamação da ferida, e até mesmo falta de estabilidade mecânica do implante ou prematura sobrecarga oclusal. Esses fatores podem prejudicar ou impedir a osseointegração e a cicatrização de tecidos moles. Entretanto, as principais causas que parecem levar a falhas tardias são a sobrecarga oclusal e a peri-implantite2-3.

No entanto, algumas falhas de implantes ocorrem mesmo em condições clínicas adequadas. Sabe-se que uma resposta imune anormal envolvendo diferentes tipos de células inflamatórias pode destruir os tecidos peri-implantares, resultando em falhas na osseointegração. Se ativadas, essas células podem sintetizar e liberar citocinas e outros mediadores químicos que irão estimular o processo inflamatório e a reabsorção óssea.

Uma vez que a carga genética do indivíduo influencia diretamente a resposta inflamatória e a produção de citocinas, estudos têm investigado uma possível associação entre alterações genéticas e a perda precoce/tardia dos implantes dentários. Alterações na sequência gênica, denominadas polimorfismos, ocorrem em alta frequência no genoma humano e podem afetar a função dos genes4. Estudos de associação genética têm demonstrado que os polimorfismos genéticos modulam a resposta imune e a suscetibilidade a diferentes doenças, inclusive a periodontal5.

O foco dos estudos investigando a suscetibilidade genética à perda de implantes dentários tem sido a presença de polimorfismos em genes que codificam proteínas, associados ao processo de formação e à reabsorção óssea. A presença de polimorfismos no gene da interleucina-1 (IL-1), uma importante citocina pró-inflamatória e com propriedades reabsortivas, e o hábito de fumar foram considerados fatores de risco para a perda precoce de implantes dentários6.

Semelhantemente, polimorfismos presentes no gene da metaloproteinase de matriz 1 (MMP-1)7 e no gene da interleucina-4 também foram associados à perda precoce de implantes dentários8. Polimorfismos no gene da proteína morfogenética óssea (BMP-4) e no gene do receptor da calcitonina foram associados à perda óssea marginal previamente à aplicação de carga mastigatória nos implantes dentários9-10. Entretanto, polimorfismos nos genes interleucina-2 (IL-2), interleucina-6 (IL-6)11, tumor de necrose tumoral alfa (TNF-α)12 e interleucina-10 (IL-10)13 não foram associados à perda precoce de implantes dentários. Em relação à associação de polimorfismos genéticos e à doença peri-implantar, polimorfismos no gene da interleucina-17 (IL-17) e da IL-6 foram associados à maior suscetibilidade para o desenvolvimento da doença peri-implantar e periodontal14-15.

Os resultados descritos na literatura atual sugerem uma associação entre fatores genéticos e a perda precoce/tardia de implantes dentários. Todavia, novos estudos incluindo um maior número de indivíduos e de genes investigados necessitam ser realizados para confirmar a real participação da carga genética do indivíduo no processo de falha na osseointegração. A confirmação da influência de determinadas variações genéticas permite identificar os indivíduos com maior suscetibilidade à perda dos implantes dentários, de maneira que o cirurgião-dentista possa atuar na prevenção e manutenção desses casos1.
REFERÊNCIAS

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